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Signs of Fire

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Signs of Fire is set in Portugal at the outbreak of the Spanish Civil War. Jorge is a young student on holiday with his uncle in the resort of Figueira da Foz. His uncle shelters two Spaniards, fugitives from the police. Portugal supports Franco: the two men if captured would be returned to certain death.
Jorge joins his usual summer crowd of friends. Some of them plot to steal a boat, rescue the Spaniards and smuggle them out of Portugal to join up with the Republicans. Jorge falls in love with Mercedes, the sister of a conspirator, but she is engaged to Almeida, a sailor co-opted to pilot the boat to Spain.

516 pages, Paperback

First published January 1, 1979

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1568 people want to read

About the author

Jorge de Sena

167 books84 followers
Jorge de Sena is one of the most important Portuguese poets of the second half of the 20th century, but he was also an outstanding essayist, a fiction writer of indubitable talent, a significant playwright and a tireless translator of the poetry and prose of writers from a variety of languages and periods. His published works extend to more than a hundred titles. It is difficult to understand how a single person could accomplish so much in one lifetime, and not a long one at that, especially if we consider that he worked under the demands of a professional life and raised nine children.
In 1959, fearing that he would be persecuted for his involvement in a failed coup attempt against the dictatorship of Salazar, Sena went into exile in Brazil, and later adopted Brazilian nationality. There he added a doctorate in the humanities to his degree in civil engineering. In 1965 he left Brazil with his large family for the United States, where he remained until his death. There is a Portuguese Studies Center named after him at the University of California at Santa Barbara, where he held his last teaching post.

The innovative character and the excellence of his vast body of work are broadly recognized today, but this was not always the case. Sena himself believed that he was under-appreciated in Portugal and, from the vantage of his American exile, he took his revenge in a series of acid attacks against the mediocrity and provincialism of the Portuguese cultural scene. It is no wonder that his poetry provoked a certain resistance. Though he was a ferociously critical poet, he would nevertheless dispense with the primer of social realism, and occasionally display the outer signs of surrealism. However, he was much too cerebral to submit himself to the dictates of the unconscious, or to practice automatic writing. And though he would give voice to personal circumstances, his practice as a poet of witness, both of his own life and the world around him, had nothing in common with the subjectivity and the immersion in psychology so typical of the generation of writers grouped around the influential literary magazine Presença, launched in the city of Coimbra in 1927.

With the appearance in Portugal, at the beginning of the 1960s, of a poetry dedicated to creating a new autonomy for poetic language, one which would favor control, prosodic rigor and metaphoric density, it was natural that certain characteristics of Sena’s poetry, such as his frequent use of registers more typical of prose, were seen as symptoms of weak technique. But it is curious to note that what tended to alienate him from the successive poetic currents of his times is exactly what the young and influential Portuguese poets of today find so attractive in him.

As an essayist, Sena is an important reference, both when it comes to Luís de Camões and to Fernando Pessoa. He also wrote a novella, dozens of short stories and one powerful novel, Signs of Fire, which presents at once a fresco of Portuguese society during the period of the Spanish Civil War and a detailed portrait of the education of a poet. He will also be remembered as the translator of hundreds of poems by a variety of poets, and of the novels and plays of such authors as Molière, Lautréamont, Poe, Chestov, Brecht, Faulkner, Hemingway, Graham Greene, Malraux and Eugene O’Neill, among many others.

Miguel Queirós (Translated by Martin Earl)

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348 (45%)
4 stars
268 (35%)
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105 (13%)
2 stars
30 (3%)
1 star
9 (1%)
Displaying 1 - 30 of 60 reviews
Profile Image for Teresa.
1,492 reviews
September 13, 2016
"Sinais de fogo, os homens se despedem,
exaustos e tranquilos, destas cinzas frias.
E o vento que essas cinzas nos dispersa
não é de nós, mas é quem reacende
outros sinais ardendo na distância,
um breve instante, gestos e palavras,
ansiosas brasas que se apagam logo.
"

Há livros que são como as paixões amorosas. No início tudo é arrebatador e até o que não é perfeito parece-o. Depois, o tempo passa, o encanto esmorece e até o que é perfeito não o parece.
Jorge de Sena, com o seu falar bonito e a sua ousadia, conquistou o meu coração logo às primeiras páginas. Mas, com o tempo, a convivência com a rapaziada começou a desencantar-me um pouco.

Sinais de Fogo foi publicado postumamente, ficando inacabado e sem revisão do autor.
É um romance sobre a descoberta do amor ou, mais propriamente, sobre os "tormentos" sexuais da juventude; com fartura de orgias (até numa igreja) e muitas idas às putas e às criadas...
A maior parte da acção decorre, no verão de 1936, na Figueira da Foz, para onde Jorge (o narrador) vai passar férias em casa de um tio. Aí se apaixona por Mercedes; desperta para a política e se descobre como poeta.

Gostei muito de algumas personagens. Do atormentado Rodrigues, bissexual e apaixonado pela tia de Jorge, sempre fiel ao marido, o tio Justino - um velhote do "piorio" e por quem delirei. Admirei Mercedes pela coragem de se entregar, sem preconceitos, à paixão e ao desejo, renunciando a promessas de casamento exigidas pelas convenções da época a uma menina de boas famílias. Não gostei de Jorge pela sua deslealdade com as mulheres e com os amigos.

Se as estrelas com que avalio um livro, no Goodreads, refletissem o valor da obra teria de dar cinco estrelas, mas como refletem apenas o meu prazer de o ler terá de ser quatro.
Profile Image for Nelson Zagalo.
Author 15 books466 followers
June 17, 2021
Para o texto — composição e ritmo — 5 estrelas não são suficientes, tal a enormidade do virtuosismo apresentado que nos faz parar amiúde apenas para saborear as palavras cadenciadas na folha. Para o historiar, 5 estrelas dão bem conta das imensas competências de Sena na criação de mundo e personagens, assim como no enredo de ações que nos levam da primeira à última página sempre querendo saber mais, instigando a nossa curiosidade como se fosse algo perfeitamente natural. Mas, no campo das ideias, o discurso apresentado não consegue ir além de 1 estrela, é pavorosa a falta de construção de significado, a aridez do mundo conceptual em que vivem alheadas todas aquelas personagens, pensando apenas nos seus umbigos e nos prazeres imediatos.

Depois de ter lido tantos e tantos louvores a esta obra e ao seu autor, e ao longo de décadas, é com alguma desilusão que falo sobre o que li. Existe aqui génio literário, mas como aconteceu com tantos outros criadores, parece não ter conseguido ir além da forma. Claro que temos de situar Sena no contexto da produção nacional, e nessa destaca-se. Aquilo que aqui parece uma escrita direta, simples e comum, é na verdade uma escrita imensamente trabalhada para chegar a essa simplicidade que o distancia de muito do que se escrevia nessa altura, e mesmo antes, no nosso país. Não existem aqui excessos, superfluidades ou vaidades formais. O texto apresenta uma composição carregadamente poética, mas fá-lo de um modo tão direto e acessível que acaba a parecer natural, criando assim um tom completamente realista, mas feito de muito belas composições.

Do mesmo modo, Sena destaca-se de muitos outros autores portugueses na fluidez da arte de contar histórias. Os diálogos são fundamentais para esse efeito, funcionando como portas naturais no acesso ao mundo ficcional que se vai desvelando no papel. Ler Sena é um pouco como sentar-se no café a ouvir uma conversa de amigos, em que os assuntos vão surgindo sem fim, e nunca perdemos o interesse em ouvi-los. Parece algo simples e fácil e, no entanto, é algo que temos dificuldade em encontrar na literatura portuguesa sua contemporânea. Para o conseguir, Sena precisou não só do seu génio com as palavras, mas também de uma outra competência, a da observação, para perscrutar e registar comportamentos, traços e trejeitos de pessoas com quem convivia. Sem esses modelos humanos bem delineados na sua cabeça, não teríamos acesso a um mundo que parece existir, feito num espaço e tempo em que poderíamos ter vivido. Contudo, e não contradizendo o que digo, senti nalgumas situações problemas de empatia nos personagens, ficando a dúvida se são intencionais, ou se são falhas descritivas que poderiam ter sido trabalhadas se o livro tivesse passado por todo um processo normal de edição.

Não podemos esquecer que esta obra, apesar de ter sido escrita ao longo de décadas, não foi publicada em vida, é fruto de um trabalho de publicação póstuma por parte da sua esposa Mécia de Sena. Nesse sentido, não deixa de ser admirável que perante uma obra destas o autor tenha evitado a sua publicação em vida. E também por isso, não posso ser excessivamente crítico para com aqueles que tecem os maiores elogios à obra de Sena, ainda que se excedam, atirando adjetivação desnecessária e louvores que parecem mais adequados a memórias de obituário.

Por exemplo, não faz sentido falar em obra “vastíssima” quando Sena nos deixou um único romance, ainda que tenha também alguns contos, peças de teatro e ensaios. É verdade que com 9 filhos e a mudar-se de país em país, fugindo de ditaduras — Portugal e depois Brasil —, não teve a vida facilitada para escrever ficção. Mas não podemos cair em abusos destes, que nos deixam sem chão quando recordamos outros nomes — Camilo, Eça, Aquilino, Agustina, Antunes ou Saramago.

Mas o que mais me incomodou foi o fundo do texto, aquilo que Sena queria dizer com esta obra. A crítica gosta de falar da obra como um fresco dos anos 30-40 portugueses, e tem alguma razão, mas daí a dar conta de uma obra dotada de significado político vai um grande passo. O quadro apresentado dá conta de uma burguesia que se afirma de esquerda mas explora criadas como animais de trabalho, incluindo sexual para satisfação dos machos da casa. Uma burguesia de esquerda que a única coisa que discute são aventuras sexuais, as vaginas e os falos, as casas de meninas, as casas de putas, os pederastas, os efeminados. Que sai à rua desconhecendo a existência de comícios políticos, passando ao lado das preocupações que assolam o povo do país em que vivem. E ainda, uma burguesia que vê a culpa em tudo e todos, menos em si.

Aliás, este foi um dos piores traços que encontrei no texto, o da culpabilização do outro, do constante listar de defeitos em todos os que rodeiam o personagem principal, colocando-o num patamar acima, como se apenas ele tivesse acesso a uma verdade pura, e todos os demais fossem desprezíveis, descartáveis. A discussão política apresentada serve apenas para gerar alguma trama e ação, nada se aprofunda, menos ainda tem impacto na vida da personagem principal que mais parece um observador à distância de toda essa realidade, seja em Espanha ou Portugal. Não existe também uma linha sobre literatura ou qualquer arte e seus criadores.

Este ponto é também muito problemático, porque o final do livro conduz-nos para uma espécie de redenção do narrador por via da descoberta da escrita, nomeadamente no modo como é feito: centrado em questionamentos puramente egotistas a partir de 600 páginas de histórias em que não entra um livro, sua leitura ou como tema de conversa. No final, refletindo sobre o modo como se faz um poeta, quase somos levados a acreditar na família do narrador que diz que "“poeta era sinónimo familiar de distraído, de pobre de espírito, de idiota chapado”. Isto porque o nosso escritor de versos, o narrador, nada lê, nada discute sobre os problemas da realidade, acabando a passar a ideia de que para se chegar a tal precisamos de passar a vida enfiados em "casas de putas", sonhando com vaginas e falos. Isto talvez fizesse algum sentido numa escrita dos anos 50-60, de libertação sexual, mas ainda assim não me convence totalmente porque essa libertação aqui é falsa porque totalmente arrumada em classes.

Ou seja, senti-me não raras vezes, enojado com a leitura, não pelo cariz erótico, mas pela diferenciação de classes que serve de visão do mundo e permite considerar uns mais humanos que outros. As putas, as criadas e os homossexuais não são gente, são objetos de diversão sempre às ordens para cumprir o que dá na gana aos meninos burgueses, e se não o fazem, desprezam-se, repelem-se ou despedem-se.

Claro que tudo isto poderia fazer parte de um mundo real da época, é em parte crível, mas o que me incomoda é saber, porque assim nos é dito, que a obra é profundamente autobiográfica, e que a pessoa que narra e assim pensa é a mesma que escreve o que estou a ler. O Jorge é bem diferente de outras personagens destestáveis, como por exemplo, Harry "Rabbit" Angstrom de "Corre, Coelho" (1960) de John Updike ou Humbert Humbert em "Lolita" de Nabokov, de 1951, que nada têm de autobiográfico, e são trabalhados como crítica humorística.

Dito tudo isto, não admira que Sena se sentisse zangado com Portugal e os portugueses, por estes não o admirarem e não o convidarem para as universidades portuguesas, já que do que é evidenciado nesta obra, Sena era alguém profundamente autocentrado. Por outro lado, por mais que possamos admirar o trabalho virtuoso subjacente à criação desta obra, os problemas de que padece na construção de sentidos sobre a realidade tornam-na muito pouco apetecível.

Arrisco a fazer aqui uma comparação aproximando Sena de Nabokov, desde logo o exílio passado por vários países até à consagração na América, mas acima de tudo a relação virtuosismo e vaidosismo que fez com que se vissem acima de todos os demais, e ainda de que todos lhes deviam. A ideia de que a sua inteligência e arte os colocava acima da necessidade de cumprir com as regras societais é algo também concedido pelas raízes aristocráticas da alta burguesia de que não parecem ter conseguido nunca desligar-se.


Publicado no blog VI:
https://virtual-illusion.blogspot.com...
Profile Image for Ritinha.
712 reviews136 followers
July 21, 2018
Juventude lúbrica saída do ventre burguês hipócrita e misógino do Portugal na primeira infância do Salazarismo.
Numa narrativa de auto-conhecimento própria do coming-of-age, acompanha-se o alter ego Jorge na procura de si mesmo sublimando as "dores de crescimento" no verso (enquanto expiação dos males da vida adulta).
Não há personagens "de papel" e quase todas têm nomes saídos das turmas de "Aleixo na Escola".
Um clássico.
Profile Image for Nuno R..
Author 6 books71 followers
September 19, 2022
Durante muitos anos, este livro ficou-me marcado mesmo sem o ter lido. Um dos meus amigos ia lendo passagens na praia, ao grupo que ali se encontrava no Verão. Lia sobretudo trechos das várias cenas na praia da Figueira da Foz, de um grupo de amigos, ainda estudantes. Os anos 30 e 40 foram muito diferentes dos anos 90 do século XX, mas aparentemente algumas cidades demoram mais a mudar que os seus habitantes. Quando finalmente li o livro que ligações que ligações e que diferenças (muitas) havia entre as personagens e o meu grupo de amigos, a minha tribo.
Profile Image for David.
1,683 reviews
February 25, 2021
I finished this book on the 40th anniversary of the attempted coup in Spain. Although one can easily think of the failed insurrection on January 6 of this year, but in 1926, Portugal’s government fell to a coup d’état under Salazar. Of course governments were changing in Germany and Italy and by 1936, the Spanish Civil War had started. It was a battle between left and right; Republicans, Fascists, and Communists (and the International Brigade).

Next door in Portugal, Salazar had consolidated his rule but talk was in the air. What about a united Iberian peninsula? Let’s keep the red threat out at all costs! At a state level, the dictatorship supported Franco; others weren’t so sure.

“Signs of Fire” retells this turbulent year, 1936, when the young Jorge de Seña spends a summer staying at his uncle and aunt’s house in Figueira de Foz, on the Atlantic coast. It has everything a 16-year old would want: his friends, beautiful beaches to swim, a casino, and of course, a brothel.

Sexuality is not lightly treated here. His gang of friends partake in a seedy affair one night but he also has intense sexual encounters with Mercedes, the girlfriend of Almeida. Deciphering love and sex has its challenges for a young male.

The story only intensifies with the nearby Spanish conflict. Jorge’s uncle, who had fought in World War I, now harbours two Spaniards, who have taken shelter from their homeland. They lean towards the left. The political bantering awake another side of the boy. One of his friends dies mysteriously while another is about to join the navy. So much is happening all around him.

At its heart is the making of a poet. Slowly his first poem starts to morph itself. The poet himself starts to describe what made him write, think and reflect using words. They are signs of fire....

Sinais de fogo, os homens se despedem,
Exaustos e tranquilo, destas cinzas frias,
E o vento que essas cinzas nos dispersa
Não é de nós, mas é quem recende
Outras sinais ardendo na distância
Um breve instante, gestos e palavras
Anciosas brasas que se apagam ligo.

Sena himself was part of a failed coup in 1959 and left for Brazil. In 1965, he begins teaching in the United States and died in 1978. The book was published after his death. This book was listed in the top 50 books to read in Portuguese.

I must agree with the critics. It is a tough challenging read and yet mesmerizing to read at the same time. His views on love and sex, not to mention the politics and social commentary, would have had this book banned under Salazar, a very strong Catholic country.

This is the story of a coming of age, but when you throw in the political, social, military, the talk of revolution, along with the sexuality, things get tense. And I have to admit, well worth the read.
Profile Image for Isabel.
313 reviews46 followers
July 1, 2016
"Acendi um cigarro. Onde iria jantar? Não me apetecia comer. Apetecia-me fugir. Para onde e porquê? E, de repente, ouvi dentro da minha cabeça uma frase: "Sinais de fogo as almas se despedem, tranquilas e caladas, destas cinzas frias." Olhei em volta. De onde viera aquilo? Quem me dissera aquilo? Que sentido tinha aquela frase? Tentei repeti-la para mim mesmo: "Sinais de fogo...". Mas esquecera-me do resto. Com esforço, reconstituía a sequência: "Sinais de fogo os homens se despedem, exaustos e espantados, quando a noite da morte desce fria sobre o mar". Não tinha sido aquilo. Não era aquilo. E que significava? Seriam versos? Repeti mentalmente: "Sinais de cinza os homens se despedem, lançando ao mar os barcos desta vida". Novamente as palavras eram outras, ou quase as mesmas mas diversamente. Tirei um papel do bolso, e escrevi: "Sinais de fogo os homens se despedem, lançando ao mar os barcos desta vida". Reli o que escrevera. E depois? Olhei o mar que escurecia, com manchas claras que ondulavam largas. Os barcos iam pelo mar fora, e nalguns havia lanternas acesas. "Nas vastas águas..." Nas vastas águas... Era absurdo. Eu fazendo versos? Porquê? Amarrotei o papel e deitei-o fora. Mal humorado, ele foi descendo num voo balanceante, até que pousou numa rocha. Aí, vacilou, aquietou-se, e, numa reviravolta súbita, deixou-se cair para o meio das pedras e sumiu. Era quase noite escura. Voltei para a cidade.
(...)
Sinais de fogo, os homens se despedem,
exaustos e tranquilos, destas cinzas frias.
E o vento que essas cinzas nos dispersa
não é de nós, mas é quem reacende
outros sinais ardendo na distância,
um breve instante, gestos e palavras,
ansiosas brasas que se apagam logo."
Profile Image for Carlos Azevedo.
Author 9 books19 followers
October 31, 2016
Lido pela segunda vez com um intervalo de muitos anos, fui à procura de mais razões pelas quais o considerava o meu livro favorito em língua portuguesa.

1- É sobre as mudanças rápidas que ocorrem em nós, sem aviso e sem apelo.
2- É sobre um período histórico que não vivemos, a Guerra Civil de Espanha (1936) e como ela era vivida em Portugal.
3- É sobre o sexo como envolvente da vida dos personagens e o mistério que ele representa para eles.

É um livro "total", é a fantástica genialidade de quem escreve sobre quase tudo criando um universo que se confunde com o nosso.
Profile Image for Estela Ladeiro.
172 reviews7 followers
October 14, 2025
Há muito que este livro repousava numa das minhas listas, à espera do momento certo.
O tamanho e a letra miudinha foram servindo de desculpa para o adiar,.. até que decidi avançar... e em boa hora o fiz.

É uma obra-prima silenciosa, daquelas que não aparecem nas conversas habituais sobre livros, e que muitos leitores parecem ainda não ter descoberto.
E por isso mesmo digo-o com convicção...vale a pena mergulhar nestas páginas!

É um livro que qualquer leitor português que se preze devia conhecer.

Publicado postumamente em 1978, "Sinais de Fogo" é um dos romances mais marcantes de Jorge de Sena.
A história decorre nos anos 30, entre Lisboa e a Figueira da Foz, num tempo dominado pelo Estado Novo e pela Guerra Civil de Espanha.

O autor dá vida a um narrador de presença viva e próxima, que observa o quotidiano e os dilemas humanos com naturalidade..
Há algo na sua voz que nos envolve, como se nos falasse ao ouvido, partilhando connosco não apenas o que vê, mas também o que sente e pressente.

“As coisas que não se dizem dizem tudo.”

Com um forte cunho autobiográfico, o livro reflete vivências do próprio autor...a juventude, o despertar político, a sexualidade, a descoberta da escrita e a formação da identidade poética.

“Havia no ar qualquer coisa que não se podia nomear, mas que se sentia com intensidade.”

A sexualidade no livro é claramente uma ousadia para a época. Não esconde os impulsos, os instintos ou os desejos,... muitos dos quais considerados tabus nos anos 30 em Portugal.
Jorge de Sena mostra episódios sem pudor, que podem chocar pela franqueza.
O narrador expõe não só o que sente, como aquilo que observa. Tudo isto ocorre numa época marcada pela hipocrisia moral, pela censura e por expectativas rígidas sobre o comportamento sexual.
O autor simplesmente arrisca, descreve, monta e desmonta...

Escrito entre 1964 e 1967, durante o exílio do autor no Brasil, o romance revela um olhar atento e crítico sobre a sociedade portuguesa e espanhola da época.

“Os silêncios e os gestos contavam mais do que as palavras.”

É uma leitura sólida, lúcida e profundamente humana, que mostra como a política e a repressão afectam a vida das pessoas.
É uma obra viva, com cheiro e temperatura, onde a caracterização das personagens é riquíssima, e a ligação entre elas revela uma escrita de mestre.

“Víamos as notícias na rádio, mas era a vida das pessoas à nossa volta que nos ensinava o verdadeiro sentido do que acontecia.”

Descobri, após alguma pesquisa, que "Sinais de Fogo" foi pensado como o primeiro volume de uma trilogia que Jorge de Sena nunca chegou a concluir. Ainda assim, a obra apresenta uma estrutura e com uma densidade que dispensam continuação.

Publicada dois anos após a morte do autor, é reconhecida como uma das grandes obras da literatura portuguesa contemporânea... tanto pela profundidade das personagens como pela mestria com que o autor une o íntimo e o histórico.
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Peço desculpa a quem me lê...sei que me alonguei, mas considero que esta obra e o seu autor merecem cada linha desta referência.

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𝗡𝗼𝘁𝗮 𝘀𝗼𝗯𝗿𝗲 𝗼 𝗮𝘂𝘁𝗼𝗿:
Jorge de Sena (1919–1978) foi poeta, romancista, ensaísta, dramaturgo e tradutor. Figura incontornável da literatura portuguesa do século XX, viveu longos anos no exílio, primeiro no Brasil e depois nos Estados Unidos, por se opor ao regime salazarista.
Entre os seus livros mais conhecidos, estão:
"Andanças do Demónio",
"O Físico Prodigioso" e
"Sinais de Fogo".
Fonte: Infopédia – Jorge de Sena

🎬Foi adaptado ao cinema em 1995 por Luís Filipe Rocha.
Profile Image for diario_de_um_leitor_pjv .
781 reviews138 followers
July 11, 2022
Ler este monumento pela terceira vez, neste momento da minha vida foi um processo de aprendizagem e releitura de uma das obras cimeiras da literatura portuguesa que me deu um infindável prazer.

Hoje, mais adulto, mais conhecedor do mundo da literatura e dos estudos da cultura e da sociedade do século XX consegui realizar um processo leitura mais queer, mais crítica desta obra.

Como todas as grandes obras literárias "Sinais de Fogo" é uma das obras literárias fundamentais para explicar as homossexualidade e as performances de masculinidade no Portugal do século XX.

Um livro a que voltarei com certeza.
Profile Image for Duarte Cabral.
191 reviews22 followers
September 29, 2025
EDIT 29/9/2025: publiquei uma crítica um pouquinho mais elaborada sobre este livro no meu substack. Se quiserem dar-lhe uma olhada, é carregar 👉aqui👈


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HAHAHAHAHAHAHAHAHA SIM CARALHOOOOOOOOOOO!!!
Profile Image for Maria.
265 reviews157 followers
June 15, 2022
Embora com algumas passagens poéticas e de belíssima escrita, o livro carece de edição por divagações excessivamente longas sem grande propósito.
Ao ler um pouco sobre a vida de Jorge de Sena compreende-se a utilização de certas partes narrativas mas há uma atmosfera de machismo demasiado presente em toda a obra que lembra um pouco o trabalho de Henry Miller.

Recomendo a leitura da obra poética do autor
Profile Image for Nuno Martins.
111 reviews13 followers
July 1, 2017
Há muito tempo que não lia um livro tão bom como os "Sinais de Fogo" de Jorge de Sena, sem dúvida uma das obras primas da literatura portuguesa, um livro cheio de força, de vida, de amor, amizade e sexualidade.
As férias de verão na Figueira da Foz, a passagem da adolescência à vida adulta, amores e sexo, a descoberta dos corpos, tudo isto passado numa época conturbada, com o início da guerra civil em Espanha, e a afirmação da ditadura em Portugal.
Recomendo vivamente.
Profile Image for Paulo (not receiving notifications).
145 reviews21 followers
Read
August 6, 2025
"Signs of Fire," by Jorge de Sena, is a novel acclaimed as one of the best in Portuguese literature, which, in my opinion, is a bit (or big, I'm not sure yet) of an overstatement.
If, as defended by some, it is a profound portrait of youth in the 1930s in Portugal, then the country had a depraved, highly sexually frustrated, and vicious youth at the time.
Led by the main protagonist, a lewd young man born from the hypocritical and misogynistic bourgeois underbelly of Portugal in the early days of Salazarism, Sena built a Bildungsroman narrative of self-discovery; Sena's protagonist (alter ego?) is in search of the self, lost in a world in transformation he doesn't understand (me neither....) atoning for sins he has no idea he committed because he can't see beyond his navel and thinks with the wrong head.

"Signs of Fire" was meant to be the first book in a larger fictional cycle that Jorge de Sena never completed due to his death. He never reviewed his first draft. Nonetheless, even in this unfinished state, and despite its flaws and the exaggerated praise it received, mainly from the established intelligentsia, it remains an interesting work of literature.

The novel follows the sometimes disgusting, sometimes plainly absurd, sexual prowess and political conscience awakening of young privileged bourgeois protagonists in the summer of 1936, against the backdrop of the brewing Spanish Civil War and the consolidation of the fascist "Estado Novo" regime in Portugal.
Between detailed descriptions of depraved sexual orgies and overly exaggerated intercourse performances where, according to the characters, "size" MATTERS! ...? I found the fixation with homosexuality irksome on the border of sick fascination.
Since the book was not finished and we have no idea of the author's intentions, it's difficult to understand the obsession with sex and particularly with homosexuality, which the author portrays as something vile, disgusting, and on the edge of criminality, which makes me think that perhaps there were some unsolved issues in Sena's head (or heads...).
The long, very looooonnnnng, silent philosophical ruminations of the protagonist on sexuality, love, political ignorance, and existential metaphysical musings about his place in the world are shallow and annoying because they disrupt the plot's dynamic. It is in those passages that we realise we are reading an unfinished work.
If Sena intended to shock the readers in the 30s (it was published posthumously only in 1979), then a bisexual and exhibitionist gigolo, slave to sensuality, must have worked wonderfully back then; today it is just boring.

But what bothered me most was the text's core, what Sena meant by this work. Critics, self-proclaimed intellectuals, and other fauna of the same kind often describe it as a reflection on Portuguese society of the 1930s and 1940s, and they have a valid point for sure; however, it is a considerable leap into the void to identify the work as politically significant. The picture presented depicts a bourgeoisie that claims to be left-wing but has no fucking idea about the reality of communism while exploiting maids as work and sexual pets for the satisfaction of the males of the house. A left-wing bourgeoisie whose only discussion and fixation is sexual adventures, vaginas and phalluses sizes, girls' houses, whores' houses, pederasts, and effeminate men and, of course, the "obvious superiority" of the Lusitanian breed. Like horses, you see? The difference is that horses are noble beasts. A bourgeoisie that walks the streets, unaware of the existence of political oppression, ignores the concerns and injustices that plague the people of the country in which they live, people who feed them and clean their shit, and on whom they depend to live. And yet, a bourgeoisie that sees blame in everything and everyone but itself. If Sena intended it as a critique of society, it's not clear and again reveals an unfinished work.

An author might portray political events in a detached, superficial manner for several reasons, often to serve a specific literary purpose. There are several possible motivations behind this narrative choice.
Emphasising the personal over the political, to focus on the main character's internal world and personal journey, rather than the broader sociopolitical landscape. By treating political events as mere background noise, it highlights that the character's primary struggles—be they emotional, psychological, or existential—are not directly dictated by the political climate, creating a sense of universality and suggesting that the human experience of love, loss, or self-discovery transcends specific or general political realities. The main character's absent-minded observations of events reflect a sense of powerlessness, suggesting that for the average person, political shifts often feel like an unchangeable reality happening to them, not something they can influence. This can create a feeling of alienation and existential dread, where the character is a passive observer in their own life and the world at large.
By making the political details peripheral, the author can make the story's core themes—such as the human condition, relationships, and personal identity—feel more timeless and enduring. The political backdrop becomes a specific setting, but the core drama is not dependent on it. This ensures that the story's emotional impact and philosophical questions remain relevant even after the specific political context becomes outdated or less familiar to future readers.
So, with all those pyrotechnics flying around the pages of the novel, it's a pity that our "hero" is such a hollow character. I already said that this stinks of unfinished work?

The most intriguing aspect of the book is the protagonist's journey to becoming a poet. Jorge de Sena embarks on an internal exploration through his alter ego. Despite not fully understanding this journey or its origins, he is determined to discover where it will lead him in his quest to become a poet. However, the small moments of insight he gains are far more profound than the entirety of the book itself.

Signs of fire, men say goodbye,
exhausted and calm, to these cold ashes.
And the wind that scatters these ashes
It is not ours, but it is what rekindles
other signs burning in the distance,
a brief instant, gestures and words,
anxious embers that soon die out.


PS:
The poem's translation is mine, and I'm sure it does not yield justice to the original.
Profile Image for César.
229 reviews55 followers
August 17, 2021
Os ingredientes: adolescentes de boas famílias a entrar na idade adulta com as hormonas em ebulição; a descoberta da sexualidade no Portugal tacanho dos anos 30 e sua sociedade repleta de contradições e hipocrisias; as mulheres reprimidas, mas afoitas; os machos latinos à procura da legitimação e os que estão a meio caminho; a guerra civil de Espanha com os tentáculos deste lado da fronteira.
Com tudo isto, Jorge de Sena faz um banquete épico de escrita elegante e de tudo o mais que só está ao alcance de quem tem mão.
Com 400 páginas tinha ficado perfeito.
Profile Image for Luís.
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August 10, 2020
The Spanish civil war is the backdrop for this novel that Jorge de Sena began to write in Brazil, a country that welcomed him as a university professor of literature. In 1936, a young man from Lisbon returned to Figueira da Foz to meet his friends again and found a city modified by the effects of the conflict in the neighbouring country. But Portugal is also a divided country, less than a decade after the end of the first republic and with Salazarism taking its first steps.

Signs of Fire is, however, much more than an analysis of that period in history. This work accompanies the entry into adulthood of a group of friends, with strong passions, multiple loves, episodes of debauchery and sexual discovery. But it is also a space for reflection by the author's role of women in society at the time, relationships outside of marriage, aesthetics and politics.
Profile Image for Ana.
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October 28, 2014
Não é muito fácil descrever este livro, e a palavra que me ocorre assim de repente é "tumultuoso". Trata-se de uma sequência de acontecimentos aparentemente inocentes e não relacionados que acabam por envolver o protagonista (que é o autor, embora o livro se assuma apenas em parte como uma autobiografia) num turbilhão de acontecimentos, alguns bastante inverosímeis, que transformam umas inocentes férias na Figueira da Foz numa vertiginosa aventura amorosa e política. Muito bom, e algo surpreendente, pela revelação de uma realidade muito (íssimo) diferente do decoro que tradicionalmente nos habituámos a associar à sociedade portuguesa dos anos 30-40.
Profile Image for João Roque.
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July 8, 2013
Ainda não acabei o livro, mas estou maravilhado e de certeza farei no blog uma postagem sobre Jorge de Sena e esta magnífica obra.
Profile Image for João Mateus.
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July 21, 2018
Um excelente livro sobre a descoberta do que é ser humano, do que é ser adulto.
Reflexões profundas sobre o que é a vida, o amor e o sexo. Ao longo do livro a personagem principal vai levantando questões que, por vezes, não responde. Deixam-nos numa reflexão em conjunto para tentar descobrir a resposta a perguntas que já vêm a ser colocadas há muito tempo atrás.

Foi um livro especialmente fácil de ler para mim por me identificar com a divagação filosófica da personagem principal, um jovem a entrar na idade adulta.
Muito bom.
Profile Image for Adriana Cunha.
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July 16, 2020
História de iniciação e romance inacabado, “Sinais de Fogo” é um marco na literatura portuguesa pelos seus excessos e transgressões mas também pela organicidade do texto.
À guisa de comentário, o ex-ministro da cultura António Pinto Ribeiro refere a premência de se devolver os portugueses a Jorge de Sena e devolver Jorge de Sena aos portugueses. Subscrevo totalmente a gradação de importância outorgada a esta nobre missão que tanto nos enriquecerá quando efetivada.
Em suma, depois de conhecer residualmente o Sena-poeta fui seduzida pelo Sena-romancista que ambicionava criar um grande romance qualitativamente e em extensão. A extensão não lhe foi permitida pelas circunstâncias da vida. A qualidade, por sua vez, está indubitavelmente patente nesta obra (mesmo que, e ainda que, inacabada). Conheçam-no.
Profile Image for tiago..
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March 10, 2022
A gritaria que os jornais faziam, todos animados de zelo governamental, a vozearia dos comentários histericamente radiofónicos, as ponderadas considerações de estratégia militar para salvação da civilização cristã que debruçavam, com calor e atenção, meus pais e meus tios que nos visitassem, sobre o mapa da Espanha, apenas me pareciam uma agitação gratuita e ridícula, em que várias pessoas procuravam encher de mortos e feridos longínquos a tranquila paz de vidas que nada queriam saber, senão a sua rotina diária, do que acontecesse no mundo.

É estranho que este extraordinário livro de Jorge de Sena tenha encontrado o seu caminho até às minhas mãos precisamente quando assistimos, remotamente, desde o nosso canteiro peninsular, à deflagração na Europa de uma nova guerra, tal como os personagens de Sinais de Fogo fizeram quando em Espanha rebentou a guerra civil dos anos 30. Mas este não é um livro sobre a guerra, ou sobre política. Pelo contrário, a guerra parece pouco mais que um cenário de fundo para o ambiente em que se movem os personagens centrais, membros da burguesia portuguesa da época que são relutantemente afastados das suas considerações presentes do prazer momentâneo e dos próprios umbigos por um evento político que, pela sua magnitude, os obriga a sair da sua posição de indiferença. Jorge, o personagem central, é obrigado a escolher lados quando vê velhos amigos de veraneio a participar em conspirações comunistas e o seu tio a esconder revolucionários espanhóis na sua casa. Mas fá-lo quase inertemente, como se arrastado pelos eventos; quanto muito, este livro reza da inação e desinteresse que permitiram que o então Presidente do Conselho de Ministros António de Oliveira Salazar lograsse instalar tão pacificamente um regime ditatorial que em Espanha esbarrara na resistência popular e desencadeara uma guerra civil.

O percurso de Jorge neste livro é outro. Jorge é um produto da sociedade portuguesa de início de século, um burguês desocupado, profundamente misógino e homofóbico, que ocupa o seu tempo com as proverbiais putas e vinho verde, pândegas escandalosas que acabam em não menos do que três episódios de agressão sexual (em termos do século XXI, claro é, porque nada de mais normal, ainda que algo imoral, poderia ter sucedido desde este ponto de vista dos anos 30). Mais perturbador fica se considerarmos o carácter autobiográfico do livro, o que parece acarretar a conclusão de que Jorge de Sena, ainda que não participando em eventos que são provavelmente ficcionais, teria participado não improvavelmente em outros igualmente escandalosos ou, pelo menos, não teria achado muito abnormal que tais acontecimentos se dessem. Ajuda, portanto, desconectar a obra do autor, e encará-lo como um estudo de carácter. Além de se apreciar melhor, dá menos vontade de queimar o livro.

O percurso de Jorge entrelaça-se também com o de Mercedes, aquele que é talvez o seu primeiro grande amor, e que o atira a uma viagem de autodescoberta que abraça com relutância. O livro segue o seu percurso descendente numa espiral niilista até um desencantamento profundo com o mundo que o rodeia. É aqui, paradoxalmente, que descobre a sua voz poética, em versos que lhe aparecem subitamente, vindos não sabe muito bem de onde, na sua cabeça.
Sinais de fogo, os homens se despedem,
exaustos e tranquilos, destas cinzas frias.
E o vento que essas cinzas nos dispersa
não é de nós, mas é quem reacende
outros sinais ardendo na distância,
um breve instante, gestos e palavras,
ansiosas brasas que se apagam logo.

É das coisas mais magistralmente escritas que já li em língua portuguesa, não haja dúvida. Desartificioso, pouco ornamentado, com uma voz narrativa muito presente, uma quase vontade de explicar tudo o que o personagem sente, ponto por ponto, mas que ao mesmo tempo combina momentos de grande ambiguidade, onde o que não foi dito é o que parece encerrar maior significado. Um livro refletido, quase filosófico. Eis aqui a sua grande força, e talvez a sua única debilidade. Da filosofia, discordo dela inteiramente (o niilismo sempre me pareceu muito pouco prático), mas não por isso deixa de ter a sua beleza, ou deixa de ser interessante seguir o raciocínio. E por vezes o raciocínio, na humilde opinião de um leitor como outro qualquer, entra por terrenos de urtigas, terrenos de absurdez; mas se isto é certo, também é certo que inevitavelmente num livro desta magnitude (tanto em dimensão como em relevância) algo haverá que se encontrar de que menos se gosta.

A confiar no prefácio de Mécia de Sena, este livro era o primeiro volume de uma série de retratos geracionais de forte inspiração autobiográfica que Jorge de Sena planeava publicar. Quem sabe onde levaria Sena este Jorge ficcional? Se é verdadeiramente autobiográfico, é talvez intuitivo assumir que não se deteria neste niilismo derrotista em que termina o livro - não é este o Jorge de Sena que quase foi parar ao Tarrafal por conspirar contra o regime salazarista. Talvez fosse este só o primeiro passo de uma viagem mais ampla - uma viagem em direção a outra forma de ver a vida, outra forma de se relacionar com os outros, e outra forma de encarar a realidade política do seu tempo. Isto, pelo menos, podemos imaginar; ainda que, com muita pena minha, nunca o cheguemos a ver.
Profile Image for Ana Pardal.
50 reviews4 followers
April 27, 2015
Sinais de Fogo é um livro de ficção de Jorge de Sena que foi publicado postumamente e que por isso mesmo é uma obra inacabada. A intenção do autor era escrever uma trilogia, mas ficou-se por este livro e de uma forma incompleta.

Decidi ler este livro, pois um dos meus objectivos de leitura é conhecer autores portugueses, em particular aqueles que são considerados grandes autores e "Jorge de Sena é considerado um dos mais relevantes escritores de língua portuguesa e figura central do panorama cultural do século XX."

Sinais de Fogo dá-nos a conhecer um jovem português nascido nos finais dos anos 10 do século XX. Acompanhamo-lo durante alguns anos, mas com maior extensão e intensidade no ano de 1936 (ano do início da Guerra Civil Espanhola). Durante esse ano, em particular durante as férias de Verão, este jovem desperta de uma forma mais intensa para a sua sexualidade e para as reflexões interiores sobre o Eu, o relacionamento com os outros, o viver em sociedade e a política. Este seu amadurecimento leva ao despertar da sua veia poética, o que muito o surpreende.

Alguns especialistas na vida e obra de Jorge de Sena consideram que este livro é uma espécie de auto biografia do autor.

A escrita de Jorge de Sena é muito boa e fácil de acompanhar, apesar de em alguns momentos do livro as reflexões "filosóficas" da personagem se alongarem demais (pelo menos para o meu gosto).

Gostei deste autor e do livro, ficando com pena de o livro não estar concluído.
Profile Image for Ricardo Moreira.
89 reviews1 follower
August 3, 2018
Achei-o demasiado e desnecessariamente longo, com muitas reflexões filosóficas extremamente enfadonhas - ao ponto de, por vezes, já nem ler as palavras que me passavam perante os meus olhos.
São, na edição que li, 631 páginas que custaram a passar, ficando, no final, a dúvida se eu teria sido capaz de continuar a ler o livro, caso o autor o tivesse terminado.
Mas é pena, porque a história de base do livro até é bastante interessante.
Profile Image for Silvia Brandao.
59 reviews10 followers
June 23, 2018
praí 300 páginas desta merda são cringey como o caraças
Profile Image for Francisco Cambim.
18 reviews11 followers
March 24, 2018
Escolhidos estes excertos, sei que poderia pôr aqui muitos outros. Porque o Sinais de Fogo, como a vida, é eterna renovação. Por agora, são estes.


«Havia tristeza agora na complacência com que ambos me olhavam, e don Juan, o mais velho, falando pausadamente, explicou que nós, os portugueses, tínhamos a convicção de que, em nenhuma língua, havia palavra equivalente à nossa “saudade”, e que, portanto, os outros povos não sentiam aquilo que nós chamávamos assim. Brincou com pedacinhos de miolo de pão, e prosseguiu: — Mas essas coisas são humanas, não têm nada de transcendente, de especial, ou de especificamente português. As pessoas têm saudades, como os portugueses dizem, de tudo o que hão perdido, de tudo o que não hão tido, ou mesmo de qualquer coisa, pessoa ou lugar de que estão separados. E não é verdade que as outras línguas não tenham palavras para dizer desse sentimento de la soledad.
Meu tio exclamou: — Mas soledad em espanhol...
— Em castelhano — interrompeu o mais novo, o basco.
— Soledad, em castelhano, equivale a “solidão” em português.
E a saudade é uma coisa que se pode sentir dentro da gente, mesmo que haja muitas pessoas à nossa volta.
Don Juan sorriu e disse: — Mas, don Justino, também a solidão se pode sentir entre amigos... La soledad... O senhor faz tudo para nos ocupar, nos distrair, nos acompanhar; e eu — levou a mão elegantemente ao peito — eu sinto-a, longe dos meus e do meu país por cujo destino temo.
No silêncio que se estabeleceu, eu disse: — E mesmo a solidão, a gente pode senti-la sem razão, sem saber porquê. Como uma espécie de vazio à nossa volta, ou falta de sentido das coisas que nos acontecem a nós ou que a gente vê acontecer.
Meu tio olhou para mim: — Tu estás filósofo, rapaz, essa arte eu não te conhecia. Continua, continua.
— Não tenho mais que continuar. Senti assim.»

(...)

«Don Justino, eu não quero molestá-lo, usted me perdoará de lhe falar assim. Mas eu penso que devemos enfrentar a verdade; e, se não temos coragem de enfrentá-la, porque nos faria sofrer muito no mais fundo de nós outros, ao menos devemos alimentar uma grande dúvida sobre as razões que nos cumprem, para não fazermos sofrer os outros.
— E o senhor acha que eu faço sofrer a minha mulher? — perguntou meu tio, com os olhos fuzilando.
Don Juan, erguendo bem a cabeça que parecia daqueles tribunos de bigodes, que figuram nos livros de história, aguentou-lhe o olhar:
— Eu acho.
— Mas o senhor não a vê? O senhor acha que aquilo é capaz de sofrer alguma coisa?
— Toda a gente, don Justino, é capaz de sofrer. Uma pessoa frívola, e sua esposa não é frívola, pode sofrer pelas suas frivolidades. Uma pessoa de grande consciência e grande sentimento de honra pode sofrer pela honra. Uma pessoa abnegada sofre pelos outros. Uma pessoa egoísta sofre de que nem todos se curvem aos seus caprichos. Parece-lhe que alguma mulher se sentirá feliz por lhe lembrarem constantemente que é menos mulher?
— Qual menos mulher! O que fica é à solta, livre.
— E parece-lhe que alguma mãe aprecia ser culpada, constantemente, da morte de um filho?
— Uma mãe desnaturada...
— Mesmo desnaturada, não gostará que lho digam.
Don Juan aguardou uma resposta de meu tio, que não veio. O cigarro apagado ia de um lado a outro da boca, e uma das mãos enfiou os dedos no cabelo. Então, don Juan disse: — Don Justino, eu peço-lhe um favor, além dos favores que lhe devemos, tão grandes. E pode ser que este, para si, seja ainda mais difícil do que tudo o que tem feito por nós. Mas não torne a faltar ao respeito a sua esposa, diante de nós.»
Profile Image for Rita Morais.
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August 18, 2023
Foi dos (se não o) livro que mais gosto me deu ler. É uma das grandes maravilhas da nossa literatura. Apesar do contexto histórico me ser distante e da sociedade portuguesa (especialmente no que toca ao papel das mulher) ter sofrido alterações, tudo o resto é familiar. Jorge de Sena conseguiu criar e desenvolver personagens que são, no fundo, pessoas reais, com as suas complexidades e detalhes pessoais. Alguns momentos de introspecção do narrador são um tanto enfadonhos, mas Jorge de Sena é perdoável, uma vez que é um romance inacabado e as reflexões são verdadeiramente interessantes. No fundo, é um romance de auto descoberta para o amor e para a política, sem pretensiosismo que, infelizmente, é típico de alguns autores portugueses. O papel das mulheres na história e na sociedade é também muito interessante de analisar, mas exige alguma crítica e poder de encaixe. Tem também descrições de interações de carácter sexual bastante explicitas que pode ferir os mais puritanos. Resumindo: este livro é tudo de bom; Leiam!
Profile Image for Joel.
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April 23, 2020
Diz-nos Mécia de Sena, na Introdução, talvez em jeito de aviso, que "Jorge de Sena considerava-se acima de tudo poeta e como tal gostava de ser reconhecido."
Sinais de Fogo é um livro maravilhosamente bem escrito, de estilo espontâneo e poético, que nos oferece um retrato do Portugal (incerto e indecente) de 1936, encostado a uma Espanha em erupção, e sombreado pelo avanço do fascismo.
Jorge de Sena projectou um ciclo de quatro volumes a que chamaria Monte Cativo, com Sinais de Fogo a encabeçar este projecto. Ter-se-ia tornado, sem dúvida, uma das obras mais relevantes da literatura portuguesa do século XX, mas a morte de Jorge de Sena aos 58 anos de idade desfalcou para sempre esse seu desejo.

Ninguém é ensinado a amar a poesia...

Uma descrição humorada da literatura canivetada em casas de banho públicas: Aquelas paredes eram, como a retrete em que eu estava sentado, uma retrete da vida.

Uma perspectiva simples mas inquietante, tanto em 1936 como nos dias de hoje:
Quem manda manda. O governo lá tem as suas razões.
Profile Image for José António Borges.
40 reviews3 followers
August 18, 2018
Era um dos livros que me faltava, não apenas por ser uma das obras centrais de Jorge de Sena mas, vejo agora, uma das obras mais importantes da literatura portuguesa do Sec. XX.

Sinais de Fogo enquadra-se, ao mesmo tempo, na lógica de romances de formação (Em busca do Tempo perdido de Proust ou A educação sentimental de Flaubert) mas é também o quadro dum Portugal e duma geração que nos governou (depois nos anos 60 e 70) oriunda das classes altas urbanas com toda a arrogância e altivez do velho regime de criadas desprezadas e sexualidades desenvolvidas entre a prostituição e o recalcamento. Este Portugal condicionou-nos décadas e continuamos reféns dele em muitos aspectos. Assim, este livro é um retrato sociológico inestimável.

Se não for lido assim, valerá pela excelente trama mas será cerzido no seu valor. É um livro raro de leitura obrigatória.
Profile Image for Pedro.
27 reviews13 followers
January 14, 2017
Dos livros mais bonitos que já li em Português. Jorge de Sena é um poeta a escrever ficção em prosa com uma visão extremamente liberal da sociedade. Em Sinais de Fogo há de tudo, desde certos momentos/personagens prosaicos ou até mesmo boçais, a momentos de introspeção e existencialismo. Serve ainda para viver como alguém que viu nascer o Estado Novo e a guerra civil espanhola em primeira mão, e tudo o que isso implica.
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